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A Arte de Sofismar: Quando a Retórica Substitui a Justiça

Nos salões da argumentação jurídica, onde o Direito deveria resplandecer como um farol da razão, há quem prefira o teatro das palavras vazias, onde a lógica se curva à astúcia e a verdade se esconde sob o manto da falácia. Ali, o sofisma reina soberano, trajado de latinismos pomposos e pareceres que se desdobram como malabarismos retóricos, transformando o absurdo em plausível e a injustiça em sentença bem fundamentada.

Diz-se, por exemplo, que uma cláusula é abusiva, salvo se for útil ao poderoso. Que a lei deve ser cumprida, mas somente quando não ofende interesses inconfessáveis. E que a moralidade administrativa é um princípio sagrado – exceto quando atrapalha alianças convenientes. O direito à ampla defesa, esse, é absoluto para quem pode pagar por ele; já para o réu comum, há que se ter pressa, pois a justiça não pode se alongar indefinidamente.

E assim segue o espetáculo da esperteza togada, onde as premissas dançam conforme a partitura do cliente mais influente, e os precedentes servem como cera moldável ao gosto do intérprete. A verdade? Essa é um detalhe incômodo, um entrave à fluidez do discurso bem articulado. Afinal, para que serviriam os tribunais, se não para envernizar de legitimidade as conclusões já previamente encomendadas?

Oh, Rui Barbosa, se aqui estivesses, talvez revisasses tua célebre indignação: pior do que a corrupção dos costumes é a corrupção da lógica, essa sim capaz de transformar o lobo em cordeiro e o larápio em vítima, tudo com o selo de legalidade.