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A Saga de Dona Santinha: A Entusiasta do Sistema, a Dívida Prescrita e a Missão Evangelizadora
Era uma vez, em um reino corporativo não tão distante, uma funcionária chamada Dona Santinha. Dona de uma devoção inabalável à empresa e uma crença quase religiosa no sistema, Santinha não era apenas funcionária: era a paladina do RH, a oradora oficial do financeiro, e a porta-voz do sistema infalível.
Certo dia, enquanto revisava seus e-mails – porque, claro, Santinha nunca perdia uma oportunidade de estar um passo à frente –, ela recebeu uma cobrança peculiar. Tratava-se de uma dívida tão antiga que até o tempo já havia desistido de cobrá-la. Uma dívida prescrita, enterrada no esquecimento, mas que Dona Santinha enxergou como uma oportunidade de ouro para demonstrar sua fidelidade e caráter impecável.
“Se a empresa está cobrando, deve ser legítimo!”, proclamou Santinha, ignorando completamente os colegas que, perplexos, tentavam explicar o conceito de prescrição.
•“Santinha, isso não precisa pagar! É prescrito! Nem a empresa pode te cobrar legalmente!”
•“Isso é coisa de sistema automático, nem faz sentido.”
Mas ela, com um sorriso paternalista, retrucava:
•“Ah, meus amigos, vocês precisam entender: a honestidade e a responsabilidade são virtudes eternas. Se está no sistema, quem sou eu para questionar?”
E não satisfeita em quitar a dívida prescrita – com recibo em mãos e orgulho estampado no rosto –, Dona Santinha assumiu uma missão pessoal: convencer os outros a fazerem o mesmo. No café da firma, ela passou a abordar os colegas:
•“Vocês também devem verificar seus históricos, viu? É uma oportunidade de mostrar nosso comprometimento com a empresa! Não querem ser como aqueles que fogem de suas responsabilidades, né?”
A cada conversa, Santinha reforçava sua narrativa de exemplo vivo de fidelidade e inteligência:
•“Eu paguei porque sei o valor da minha palavra. Sou responsável, diferente de quem fica se escondendo atrás de leis e prescrições!”
Os colegas, entre risadas contidas e olhares de incredulidade, cochichavam:
•“Santinha paga dívida que nem devia, e ainda quer nos convencer de que isso é um ato nobre?”
•“Ela é tão fiel ao sistema que, se pedirem, ela paga o IPTU de um imóvel que nem é dela.”
•“Fidelidade? Inteligência? Sei não… Mas que ela está fazendo o financeiro rir à toa, isso está!”
O auge da saga veio quando o atendente do financeiro, segurando o riso, soltou:
•“Santinha, parabéns por sua dedicação. Você é única… no sentido literal. Mais ninguém paga essas coisas.”
Moral da história: até a lei prescreve, mas a “inteligência” e o zelo inabalável de Dona Santinha pelo sistema permanecem eternos.
E assim, nossa heroína continua sua jornada como a missionária corporativa, convencendo a si mesma e tentando convencer os outros de que pagar o que não deve é um ato de grandeza. Afinal, para Dona Santinha, ser um exemplo vivo é uma vocação – mesmo que ninguém mais esteja comprando essa ideia (ou pagando essas dívidas).
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